quinta-feira, 6 de março de 2008

Ecobusiness – Uma Alternativa para o Desenvolvimento Sustentável e para a Criação de Novos Negócios

Por Gustavo Mamão*


Assim como nas décadas de 80 e 90, quando o aumento da produtividade das empresas foi alcançado através de investimentos em Tecnologia da Informação, criando um fabuloso segmento de mercado, a expectativa é que nesta e nas próximas décadas o segmento de negócios verdes, o chamado Ecobusiness, ganhe espaço expressivo para garantir a conquista do novo desafio das empresas: a oferta de produtos e serviços ecologicamente corretos.

No final do século XX, mais notadamente durante a década de 90, observou-se o despertar de uma forte conscientização ecológica da sociedade mundial. Soluções para problemas ambientais foram discutidas e algumas medidas adotadas. O Protocolo de Kyoto, por exemplo, embora não tenha tido a adesão dos EUA, representou um avanço de acordo multilateral de países para a redução do problema de aquecimento do globo terrestre.

No ano passado, durante a Rio +10, convenção mundial realizada em Joanesburgo, África do Sul, líderes e representantes de diversos países voltaram a reforçar a necessidade da tomada de medidas mais concretas para criação de alternativas ao atual modelo econômico que permitam o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade.

Neste contexto, é fácil entender a importância de negócios que tomem o meio ambiente como uma variável fundamental para o seu sucesso. O segmento de mercado que reúne produtos e serviços que solucionam problemas ambientais ou que utilizam métodos racionais de exploração dos recursos naturais, o Ecobusiness (ou Green Business) passa a ser, portanto, um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável.

No cerne do segmento estão as empresas cuja atividade fim representam soluções para problemas ambientais existentes como, por exemplo, gestão e tratamento de água e efluentes, gestão e reciclagem de resíduos sólidos e descontaminação do solo e do ar.

Em um segundo nível está o conjunto de empresas que desenvolvem tecnologias que reduzem o impacto ambiental de seus respectivos setores, criando materiais biodegradáveis, provendo soluções para geração de energia através de recursos limpos e renováveis e cultivando alimentos sem a utilização de insumos químicos.

Existe ainda um terceiro grupo de empresas que fazem parte de segmentos tradicionais, como as indústrias de base, automobilística, prestadores de serviços, que se diferenciam dos demais pela adoção de processos ou oferta de produtos geradores de um menor impacto ambiental da atividade econômica, passando a carregar a imagem de empresa ecologicamente correta.

Em recente relatório publicado pela Revista norte americana Fortune Small Business (Edição de 4 de junho de 2003), com o título The Next Big Thing, o segmento de “negócios verdes” é apresentado como um mercado que começa a atrair investimentos e que possui um grande potencial de crescimento. Os primeiros resultados que apontam para essa expansão devem-se a dois importantes fatores: (1) uma mudança cultural dos consumidores, exigindo maior responsabilidade social e ambiental das empresas – “o começo de uma grande mudança cultural, do tipo que poderia finalmente tornar os negócios verdes viáveis no mercado de massa nas próximas décadas”; (2) uma mudança cultural dos empresários, que aprenderam com os erros do passado e que agora sabem que um produto ecologicamente correto deve ter, antes de mais nada, qualidade no mínimo igual a de seus concorrentes. “Atender à necessidade do cliente é mais importante do que o apelo verde do produto. Pessoas compram alvejantes para deixar as suas roupas limpas, não para salvar o planeta. A grande sacada é, se você puder limpar as roupas das pessoas e o planeta ao mesmo tempo, você terá uma grande vantagem competitiva”, afirma uma consultora entrevistada pela revista.


Alguns números provam esse crescimento. O mercado de energia eólica tem crescido cerca de 20% ao ano no mundo. Mesma cifra do incremento das vendas de alimentos orgânicos nos EUA. As vendas de automóveis híbridos (operam com combustível fóssil e energia elétrica) nos EUA partiram de zero para atingir 36 mil unidades em alguns anos – a Toyota espera vender 300 mil de um de seus modelos em 2005. O investimento de Venture Capitals em tecnologias relacionadas a energias renováveis triplicou desde 1999.

Entretanto, não é somente pela conquista de receita que as empresas estão revisando suas práticas. As empresas estão ganhando também com a redução de custos de processos e da exposição de seus passivos ambientais. Só para citar um exemplo, uma cervejaria conseguiu reduzir em 30% seus gastos com água para fabricação de sua cerveja.

No Brasil, essa tendência não é diferente. A V&M do Brasil, por exemplo, empresa do grupo francês V&M Tubes, tem demonstrado uma preocupação ambiental que já vem lhe rendendo reconhecimento. Por minimizar o impacto ambiental em todo o processo de fabricação, ela criou a marca “Tubo Verde” para caracterizar o seu produto. Essa preocupação, além de traduzir-se em redução de custos, como o de economia de água e armazenamento de resíduos, rendeu à V&M, no inicio deste ano, uma nova fonte de receita auferida através da venda de créditos de carbono, firmado sob o amparo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM – Clean Development Mechanism) do Protocolo de Kyoto.

O país também vem atraindo o investimento de grandes empresas nessa área, como é o caso da Tomra, multinacional norueguesa especializada na logística reversa de embalagens. No ano de 2001, ela adquiriu 70% da Latasa, empresa que opera a maior rede de centros de coleta de latas de alumínio da América Latina. Atualmente a Tomra Latasa estuda formas de disseminar no mercado brasileiro o principal produto de sua matriz, as suas Reversing Vending Machines (RVMs). Colocadas em locais de grande circulação de pessoas, por exemplo, grandes redes de supermercado, essas máquinas podem aumentar o percentual das embalagens recolhidas pós-consumo, o que ajudaria ainda mais às empresas recitadoras destes materiais.


E não são só as grandes empresas que se beneficiam dessa mudança cultural. As micro e pequenas empresas brasileiras são talvez os grandes beneficiados. Além do efeito multiplicador em toda a cadeia de valor da adoção de medidas verdes pelas grandes empresas, as micro e pequenas empresas se favorecem por razões que se associam a negócios tipicamente de menor porte e, no caso do Brasil, pelo estágio de desenvolvimento dessas atividades frente ao seu potencial. A valorização de produtos naturais (processadores de fito produtos e agricultura orgânica), a necessidade de desenvolver uma estrutura de logística reversa (catadores, sucateiros e indústrias de reciclagem), a necessidade de um maior reaproveitamento de resíduos industriais (indústrias de reciclagem e materiais alternativos), a revalorização de materiais naturais para as construções, reduzindo no longo prazo o consumo de energia do local (construções verdes e materiais alternativos) etc. são algumas dessas razões.


Todas essas iniciativas mostram que, dentro desse novo e crescente segmento de mercado, os cuidados com o meio ambiente deixam de ser uma fonte onerosa de despesas para se tornar uma fonte promissora de lucros. Empresas que desenvolverem soluções inteligentes para superar problemas ambientais terão certamente espaço para apresentarem suas novas idéias. Por outro lado, empresas que se reinventarem para atender às exigências crescentes do mercado poderão ter melhores resultados, seja por se diferenciarem através da associação a uma imagem “verde”, seja por serem mais eficientes do que seus concorrentes.


* Gustavo Mamão é administrador de empresas e especialista em negócios ligados ao meio-ambiente. É diretor da divisão de Ecobusiness do Instituto Inovação.
gm@institutoinovacao.com.br

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